A pouco mais de duas semanas das eleições no Brasil, a tradicional revista
britânica The Economist dedicou sua capa desta semana ao líder das pesquisas
de intenção de voto à Presidência, o candidato Jair Bolsonaro (PSL),
descrevendo-o como "a mais recente ameaça da América Latina".
A publicação, em artigo divulgado nesta quinta feira
(20/09) em seu site, afirma
que o Brasil
necessita urgentemente de reformas, mas que a
resposta não está em Bolsonaro. "Ele se tornaria
um presidente desastroso", destaca o texto.
A reportagem começa dizendo que os brasileiros
devem estar se perguntando se Deus - que seria
brasileiro - saiu de férias. "A economia está um
desastre, as finanças
públicas estão sob pressão
e a política está completamente apodrecida. A criminalidade urbana está
aumentando também."
"As eleições nacionais no próximo mês dão ao Brasil a chance de começar de
novo", acrescenta a Economist. "Contudo, se - como parece muito possível - a
vitória for para Jair Bolsonaro, um populista de direita, corre-se o risco de
acabar tudo pior."
O texto relata que Bolsonaro, com Messias como um de seus sobrenomes,
promete a salvação. Mas, "na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a
América Latina", afirma.
Segundo a revista, o presidenciável brasileiro é o último de um "desfile
de
populistas" em todo o mundo - de Donald Trump nos Estados Unidos a Rodrigo
Duterte nas Filipinas, além de Andrés Manuel López Obrador, um rebelde de
esquerda, que toma posse no México em dezembro.
"Bolsonaro seria uma adição particularmente desagradável ao clube. Se ele
vencesse, poderia colocar em risco a própria sobrevivência da democracia no
maior país da América Latina", diz.
A publicação explica ainda que populistas costumam recorrer a queixas
semelhantes em suas propagandas de governo, agarrando-se a temas como a
corrupção generalizada e uma economia em frangalhos. "E Bolsonaro explora
sua fúria brilhantemente."
O texto menciona o histórico do deputado - eleito por sete mandatos - de ser
"grosseiramente ofensivo". "Ele disse que não estupraria uma deputada porque
ela era ´muito feia´ e afirmou
que preferiria um filho
morto a um filho
gay",
relata, entre outros casos.
"Para os brasileiros desesperados para se livrar de políticos corruptos e
traficantes
de drogas assassinos, Bolsonaro se apresenta como um xerife
sensato", acrescenta o artigo, ao fazer um perfil
do possível futuro presidente
brasileiro. "Cristão evangélico, ele mistura o conservadorismo social com o
liberalismo econômico, ao qual se converteu recentemente."
Em relação às suas propostas, a revista relata, por exemplo, que o candidato do
PSL defende a privatização de todas as empresas estatais brasileiras e a
redução do número de ministérios de 29 para 15, com a intenção de colocar
militares no comando de alguns deles.
"Além de suas visões não liberais, Bolsonaro tem uma admiração preocupante
pela ditadura", descreve o texto, lembrando a vez em que o deputado dedicou
seu voto favorável ao impeachment de Dilma Rousse,
em 2016, ao militar
Carlos Alberto Brilhante Ustra, "comandante de uma unidade responsável por
500 casos de tortura e 40 assassinatos sob o regime militar".
"Os brasileiros têm um fatalismo em relação à corrupção, que se resume com a
frase ´rouba, mas faz´. Eles não deveriam se deixar levar por Bolsonaro - cujo
ditado poderia ser ´torturaram, mas fizeram´",
opina o artigo.
A Economist conclui afirmando
que os brasileiros, "em vez de cair nas
promessas vãs de um político perigoso na esperança de que ele possa resolver
todos os seus problemas, deveriam perceber que a tarefa de curar sua
democracia e reformar sua economia não será fácil nem rápida".
"Algum progresso foi feito - como a proibição de doações de empresas a
partidos políticos e o congelamento de gastos federais. Mas muito mais
reformas são necessárias. Bolsonaro não é o homem que vai proporcioná-las."
Desde o início da corrida eleitoral, o militar reformado vem liderando as
intenções de votos. A mais recente pesquisa, do instituto Datafolha, revelou
nesta quinta-feira que o candidato, afastado da campanha há duas semanas
após ter sido esfaqueado, segue conquistando eleitores.
A sondagem colocou Bolsonaro com 28% das intenções no primeiro turno -
apesar de liderar também a lista de candidatos mais rejeitados, com 43%. Em
segundo lugar, aparecem tecnicamente empatados Fernando Haddad (PT), com
16%, e Ciro Gomes (PDT), com 13%.
Fonte Terra
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