A Organização das Nações Unidas (ONU) diz
estar “profundamente preocupada” com o clima
de violência nas eleições brasileiras e pede que
líderes políticos nacionais condenem
explicitamente tais atos. Numa declaração
emitida nesta sexta-feira, em Genebra, o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos deixou claro que a situação brasileira
tem sido considerada como “delicada” por parte
do organismo internacional e pede investigações
imparciais sobre os crimes registrados.
O acirramento da política em meio à disputa eleitoral tem desembocado em
episódios de violência física, facada contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) e
até um assassinato. Nos últimos dias, foram registrados no país diversos casos
de agressão por motivação política.
Na capital baiana, depois de se envolver em uma discussão na qual defendia o
candidato petista, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, o Moa do
Katendê, foi assassinado a facadas dentro de um bar. Bolsonaro foi questionado
sobre o assassinato. “A pergunta deveria ser invertida. Quem levou a facada fui
eu. Se um cara lá que tem uma camisa minha comete um excesso, o que tem a
ver comigo? Eu lamento, e peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não
tenho controle.”
Na quarta-feira, ele voltou ao assunto em seu Twitter, já com um outro tom.
“Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra
eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou
na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis,
assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar.” Mas, em uma
segunda postagem, ele disse haver um “movimento orquestrado forjando
agressões” para o prejudicar, “nos ligando ao nazismo, que, assim como o
comunismo, repudiamos”.
Na ONU, o apelo é pelo respeito. “Condenamos qualquer ato de violência e
pedimos investigações imparciais, efetivas e imediatas sobre tais atos”,
declarou a porta-voz do escritório da ONU, Ravina Shamdasani. “O discurso
violento e inflamatório
dessas eleições, especialmente contra LGBTI, mulheres,
afrodescendentes e aqueles com visões políticas diferentes, é profundamente
preocupante, especialmente dado os relatos de violência contra tais pessoas”,
disse Ravina. “Pedimos a líderes políticos e aqueles com influência
a
publicamente condenar qualquer ato de violência durante esse período
eleitoral delicado, e a chamar a todos os lados para que se expressem de forma
pacífica
e com o total respeito pelo direito dos demais”, completou a porta-voz.
A declaração não cita nem o nome do candidato Jair Bolsonaro e nem o de
Fernando Haddad. Há cerca de um mês, a ONU condenou a facada contra Bolsonaro e, já naquele momento, armou
estar preocupada com a tensão
vivida no país. Nas últimas semanas, o Brasil está sendo alvo de um
acompanhamento específico
por parte das agências da ONU no que se refere às
eleições presidenciais. A entidade decidiu fazer um monitoramento minucioso
do que está ocorrendo no País, temendo que a principal democracia da América
Latina possa ser afetada por um clima de tensão política inédita desde os anos
80.
Escritórios da ONU que lidam com política regional ou direitos humanos têm
feito o acompanhamento, com detalhes sobre a situação atual e cenários. A
informação tem servido de base para permitir que a cúpula da organização em
Nova Iorque e em Genebra esteja atualizada sobre os acontecimentos e possa,
eventualmente, reagir com declarações públicas. O monitoramento não
significa
qualquer tipo de envio de missão internacional ou dúvidas sobre o
processo eleitoral por parte da entidade.
Fontes de alto escalão da ONU indicaram à reportagem que dois temas
principais são monitorados: incidentes de violência e tensão durante o processo
eleitoral e o impacto que o resultado poderia ter em termos geopolíticos no
hemisfério ocidental já chacoalhado depois da chegada de Donald Trump ao
governo dos EUA.
Antes de deixar o cargo, no nal
de agosto, o então Alto Comissariado de
Direitos Humanos da ONU, Zeid al Hussein, qualificou
o discurso do candidato
de “um perigo” para certas parcelas da população no curto prazo e para o “país
todo” no longo prazo. Zeid foi substituído logo depois pela chilena Michelle
Bachelet.
Fonte: Veja
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