ANTONINA DO NORTE CE Jovem que que fugiu de casa há 25 anos reencontra a família

O motorista Antônio Carlos da Silva, morador de Maranguape, descobriu aos 32 anos o paradeiro de sua família. Ele não os via desde que tinha fugido aos cinco anos de idade, do Cariri, sem saber voltar. Com apoio de amigos e das próprias lembranças de casa, ele reencontrou a família e sua história quase três décadas depois.

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A criança desaparecida, o garoto perdido, cresceu por Fortaleza, de rua em rua, depois de abrigo em abrigo, até chegar à Associação Pequeno Nazareno.

Trabalhando como motorista na associação onde um dia foi acolhido, Carlos viaja levando crianças institucionalizadas para o fim de semana na casa de parentes.

Em sonho, já voltei muitas vezes pra casa”, diz. E nessas voltas, ele vê um lugar com duas colunas de ferro sustentando um teto, talvez de alumínio. No meio do lugar, uma cabine de compra e venda de passagens. Atrás dela, um banheiro. Não tira o lugar da cabeça, e acha que morava ali perto. Ou melhor, de sua casa para lá eram alguns poucos passos após atravessar um matagal, à margem de um rio ou lagoa. Sabia que tinha água e pessoas pescavam. Enquanto crescia longe de casa, Carlos fazia das horas de dormir o lugar de recuperação dessas memórias. E dormia como quem voltava.

Legenda: Antônio Carlos fugiu de casa e se escondeu em um ônibus de um terminal rodoviário próximo de onde morava. O local permaneceu em sua memória e sonhos

Foto: Reprodução

Carlos cresceu. Hoje tem 32 anos - não precisamente. Casou. Tem uma filha. E mesmo ele também tendo a quem chamar de pai (foi adotado por Antonio Bernardo Rosemeyer, fundador da Associação Pequeno Nazareno), nunca se sentiu completo sem ao menos saber de sua família biológica.

Legenda: Natália, Fernanda, Diego e Clécio, irmãos de Antônio Carlos
Foto: Reprodução


E como se as semelhanças não precisassem parar por aí, um amigo, homônimo e quase irmão também tomou para si a missão dessa busca. Dessa forma que Antônio Carlos, o amigo, entra na história. Viajou para o Cariri, com destino a Juazeiro, com dois mil panfletos, e saiu distribuindo por onde passava. Um dos lugares foi o hotel municipal de Araripe. Um enfermeiro que viajava, passou por lá. Pegou um panfleto e colocou no bolso. Chegando em casa, leu com atenção e se assustou. Na tarde de terça-feira, 24 de novembro, ligou para o número que estava no papel e, entre um diálogo e outro, as semelhanças só aumentavam.

— Cara, tu é meu irmão. Eu não tô acreditando!

O incrédulo era Clécio, que nasceu depois do desaparecimento de Carlos. A mãe de ambos, Geane, faleceu em 2017, vítima de câncer. Nunca se esqueceu do filho desaparecido, nem deixou de procurar. E se angustiava sempre que via os outros saindo de casa. Não queria passar de novo. “Ela sempre falou desse filho, sempre dizia que alguém tinha carregado. Poucos dias antes de morrer, ela falou que viveu com um cara que batia muito nela e acabava batendo no Carlos também. Numa briga, ele fugiu de casa. E daí ela acha que depois alguém o carregou”, lembra Clécio.

Ninguém mora mais em Antonina do Norte, cidade do Cariri onde Carlos viveu e de onde fugiu. Os outros irmãos, Diego (Mora em Goiânia), Fernanda e Natália (moram em Petrolina-PE) estão vivos e vibraram de alegria com a novidade. A avó Francisca mora em Lagoa Grande (PE). Dona mocinha, como ela é conhecida, ainda não sabe da novidade - os netos vão viajar no próximo fim de semana para dizer pessoalmente.

Até lá, Carlos conversa com Clécio por chamadas de vídeo. Em meio à alegria, ficou triste ao saber que a mãe se foi. Mas comemorou os irmãos que logo mais reencontrará. A família aumentou. “Num ano de tantas tragédias, um milagre”, pensou. DN




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