UECE usa tangerina no tratamento contra COVID-19, estudo publicado em revista internacional


Um trabalho acadêmico realizado por um universitário cearense sobre uso do composto natural Tangeretina, extraído da casca de frutas como a Tangerina, como agente terapêutico no tratamento e no combate à febre Zika e à Covid-19, foi divulgado na revista Journal of Computational Biophysics and Chemistry, no dia 7 de abril de 2021.

A pesquisa é intitulada “Virtual Screening of Citrus Flavonoid Tangeretin: A Promising Pharmacological Tool for the Treatment and Prevention of Zika fever and COVID-19” (Triagem virtual de tangeretina de flavonóides cítricos: uma ferramenta farmacológica promissora para o tratamento e prevenção da febre zika e COVID-19).

A substância terapêutica extraída de fontes naturais e abundantes, pode ser obtidas com baixo custo e se apresenta como um potencial antiviral.

Conforme o estudo, a substância é bem absorvida no intestino humano e penetra prontamente o sistema nervoso central sem risco tóxico ao paciente, constituindo, assim, um princípio ativo farmacológico promissor no tratamento e combate à febre Zika e a COVID-19.

O autor do estudo é o aluno de graduação do curso de licenciatura em Química da Fafidam (Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Matheus Nunes da Rocha.

Ele afirma ser uma satisfação estar representando a Uece na pesquisa, sobretudo em um momento tão adverso como o da pandemia da Covid-19.

O estudante explica que, inicialmente, os estudiosos pesquisaram grupos moleculares de fontes naturais que possuíam atividade contra doenças respiratórias, no caso os flavonoides cítricos.

A equipe constatou que a tangeritina está em fase de investigação e possui atividade contra as SRV (síndromes respiratórias virais) e pode ser isolada da casca da tangerina. Ressalta que os pesquisadores otimizaram a estrutura molecular em nível quântico, para obter uma geometria de energia mínima para interagir com a proteína da replicação do coronavírus, a Mpro SARS-CoV-2. Matheus explica que a simulação é um docking (ancoragem) molecular, que leva em consideração as interações eletrostáticas da molécula com os sítios ativos da proteína do vírus.

“A simulação mostrou que existe a possibilidade de se consumir a tangeretina simultaneamente com o medicamento Baricitinib, pois elas interagem com a proteína do vírus em sítios diferentes. Esse é um resultado promissor, porque ambas as substâncias não resultariam em hepatite medicamentosa se consumidas simultaneamente, ao contrário do consumo simultâneo da azitromicina e ivermectina”, esclarece o estudante.

O estudante destaca que a substância é facilmente absorvida no intestino e só é tóxica em altas dosagens, o que permite o controle da dose sem resultar em toxicidade. Com relação as interações da tangeretina com a proteína do zika vírus, ele ressalta que as pesquisas mostraram que a substância também é um forte inibidor do vírus.

Enquanto o tratamento contra a Covid-19 prevê o uso suplementar do Baricitinib, medicamento indicado para o tratamento da artrite reumatoide, as simulações indicam que a tangeretina pode ser consumida isoladamente para o tratamento da zika.

Colaboradores 

O estudo contou com a colaboração das professoras Daniela Ribeiro Alves (Química-CCT), Márcia Machado Marinho (Fecli) e Selene Maia de Morais (Química-CCT), sob coordenação do professor Emmanuel Silva Marinho, coordenador do grupo de Química Teórica e Eletroquímica (GQTE/Fafidam).

O professor Emmanuel Marinho pontua que os três polos da Uece – Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) e Fafidam – se uniram para buscar alternativas de combate à Covid-19, doença que resultou na pandemia que, desde o ano passado, vem levando a milhões de mortes e de infecções em todo o mundo e à febre zika, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.

Marinho esclarece que o projeto se encontra na primeira etapa. Os pesquisadores elaboraram simulações teóricas e ainda não iniciaram as fases em laboratório. “Pegamos uma estrutura que já conhecíamos, a tangeretina, e fizemos toda a pesquisa em processo computacional; nada foi feito ainda em bancada de laboratório. Sabemos que muitas pessoas usam chás para combater gripes e, a partir do conhecimento popular, buscamos bases bibliográficas e encontramos referências que indicam a tangeretina como potencial antiviral, já comprovado cientificamente. Importante ressaltar que esse trabalho é a primeira etapa da pesquisa, e a tangeritina deverá ser testada in vitro. Essa primeira fase computacional ajuda no desenvolvimento mais rápido da pesquisa, não sendo necessário testar em animais nessa fase inicial”, detalha o professor Emmanuel.

CMF (Marcelo Raulino)




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