O fenômeno Bolsonaro

De onde viria o sucesso eleitoral do candidato de um partido nanico, odiado pela grande mídia, atacado por diversos artistas, sem tempo de TV, politicamente incorreto e defensor de ideias consideradas pré-históricas pelo establishment progressista? O que nele teria atraído multidão em todos os estratos sociais, incluindo a maioria dos mais instruídos? Foi esfaqueado, e obteve mais eleitores. Repudiado em manifestações num dia, e dois dias depois aumenta a adesão a ele. Como entender o "fenômeno Bolsonaro"?
Uma possível explicação, estimado leitor, é que ele representa um certo Brasil amordaçado, e hoje conectado em rede social, que reage a um intelectualismo excludente, posicionado em lugares-tenente da sociedade nos últimos 20 anos.
Um Brasil que responde assim aos que não traduziram a vontade popular no exercício de sua atuação política, senão que se apropriaram de cargos e recursos públicos para implementar ideologia descolada dela, com ânimo de instalação definitiva no Poder. Lideranças de uma esquerda que se autoproclama tolerante e democrática, mas não admite quem pense diferente e, por isso, rotula com os piores qualificativos quem não se submete à mesma agenda ideológica.
 Ora, eleição é escolha entre possibilidades concretas e projetos limitados. Nenhuma candidatura é perfeita. Nesse espectro, o primeiro turno evidencia uma maioria que se identifica com a candidatura Bolsonaro. Não são 49 milhões de pessoas racistas, homofóbicas, misóginas e fascistas, termos usados na contrapropaganda com a intenção de intimidar e depreciar.
Os eleitores do capitão, para além da caricatura, identificam nele um patriotismo genuíno, sem a instrumentalização do País para fins ideológicos que ultrapassam as fronteiras. Não reconhecem no seu grupo o afã de tomar e de se perpetuar no poder, meta declarada por um dos ícones do PT.
 Valorizam o compromisso de defender a vida (90% da população é contra a liberação do aborto segundo Ibope/2017) e de lutar contra a liberação das drogas, antípodas da outra candidatura.
Também preferem o respeito à liberdade de expressão e de imprensa, sem controle de mídia, que é proposta do outro candidato. Vislumbram a continuidade da Lava Jato, enquanto o outro lado propõe redução e retaliação.
Há também os que apoiam pela perspectiva de reforma tributária e econômica, tendente a reduzir o Estado e a burocracia, e favorecer empreendedores, geradores de emprego e menos dependentes do Governo. 
Há quem divise mais segurança pública na vitória do PSL, tendo Bolsonaro assumido o lado das vítimas da violência, antes de tratá-las como a causa da mesma, inversão lógica muitas vezes feita pela ideologia de extrema-esquerda.
Se tais promessas vão vingar, ou não, sendo eleito Bolsonaro, querido leitor, precisa ter bola de cristal para saber. De todo modo, elas levaram 46% dos que votaram e preferi-lo. Acho importante fazer essa reflexão, porque não me parece correto subestimar a inteligência e boa fé desse contingente. Viver a democracia é respeitar o outro, apesar de suas escolhas, e buscar compreendê-las com boa-fé.
Vale lembrar que estamos do mesmo lado da trincheira. A guerra é nossa e não entre nós.
 Antonio Jorge Pereira Júnior 
antoniojorge2000@gmail.com 
Doutor e mestre em Direito - USP,  professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor
Fonte o Povo

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