Açude Castanhão sofre com a longa seca e tem situação delicada

Sem recargas significativas, o maior açude público de usos múltiplos do Brasil continua abastecendo, com muito esforço, municípios vizinhos e a Capital. Prognóstico da Funceme para os próximos meses sai no fim desta semana.


O açude Castanhão, maior reservatório do Estado do Ceará e do Brasil, sofre. Na Capital, distante 250 quilômetros dele, com água correndo solta nas torneiras, poucos devem escutar os gemidos do gigante pelo encanamento.

A aflição é reforçada pelo Relatório de Monitoramento das Secas no Brasil, apresentado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), na última semana, sobre os impactos no ano de 2018. A constatação é dramática: ano a ano, o Castanhão míngua.

Hoje, ele está com 4,01% de sua capacidade total, como mede o Portal Hidrológico do Ceará. O número se assemelha aos 4,59% que tinha na primeira quinzena de 2004. A diferença é que, naquele ano, ele ainda resguardava força: afinal, ainda estava se erguendo, apenas um ano após sua inauguração, em Alto Santo. Agora, castigado por sete anos de seca, o gigante está de joelhos. "O açude Castanhão, em janeiro de 2018, apresentou um volume armazenado de 2,64% de sua capacidade total, e, no fim da estação chuvosa (maio de 2018), atingiu seu maior nível, chegando a 8,7%. Porém, a partir do mês de maio, o volume armazenado no Castanhão foi diminuindo", descreve o Cemaden. Conforme o órgão nacional, as reservas hídricas "entraram em colapso", registrando "os menores valores de suas séries históricas".

Apreensão

O atual leito rochoso mal lembra o açude corpulento levantado pelas fortes chuvas de 2004 e 2009. Desde 2012, o volume só cai (vide infográfico) porque as chuvas anuais não apresentaram recargas significativas. Para o coordenador do Complexo do Castanhão, administrado pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Fernando Pimentel, a situação é grave - e sem perspectivas de melhora a curto prazo.

"Atualmente, ele está com 270 milhões de metros cúbicos. Já estamos na cota 70, ou seja, a gente se encontra num volume morto, e a expectativa não é nada favorável pra ganharmos um novo aporte", declara o gestor.

Fernando lembra que o açude perde cerca de 1 milhão de metros cúbicos diariamente (em dias mais ensolarados e propícios à evaporação, o número é ainda maior), perdendo, no mesmo período, 4 centímetros de altura, como atesta a régua da coluna d'água.

Mesmo abalado, o açude ainda espalha suas águas para Fortaleza e municípios vizinhos, além de contemplar populações ribeirinhas. Segundo Pimentel, um quadro chuvoso semelhante ao de 2018 poderia "nos garantir mais um ano de abastecimento".

Quadra chuvosa

Em fevereiro do ano passado, o Conselho de Recursos Hídricos do Ceará (Conerh) chegou a deliberar pela suspensão do envio de águas do Castanhão para abastecimento complementar de Fortaleza e da Região Metropolitana (RMF). Porém, no segundo semestre, a operação foi retomada.

"Trabalhando com segurança hídrica. Gostaríamos de que esse percentual fosse ganho de forma mais acentuada - no mínimo o dobro de 2018, chegando a cerca de 1 bilhão de metros cúbicos. Mas nada podemos garantir. Temos de gerenciar o momento", reflete Fernando Pimentel.

O prognóstico oficial da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) para a quadra chuvosa será revelado na próxima sexta-feira (18). Contudo, a previsão já divulgada do Climatempo para o verão deste ano, que segue até março, é que o fenômeno El Niño deva enfraquecer a ação da Zona de Convergência Intertropical (Zcit), principal indutora de precipitações sobre o Estado.

Até o fim deste mês, as regiões mais ao Norte do Ceará continuarão afetadas pela umidade que vem do oceano, recebendo chuvas levemente acima da média. Em fevereiro, o cenário começa a mudar, e o Centro-Sul deve sofrer com a falta de chuvas. Março, último mês da estação, não será totalmente seco, mas as chuvas ficarão mal distribuídas em todo o Estado.

Aquecimento

Na análise da meteorologista Graziella Gonçalves, embora fraco, o El Niño impacta no regime de chuvas da região Nordeste. O fenômeno se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico. Na região mais próxima ao Brasil, atualmente, há um desvio positivo de mais de 0.5 ºC. "Não adianta esperar todo um momento úmido como vem acontecendo nas últimas semanas", explica.

Conforme a especialista, o El Niño enfraquece os ventos alísios, que formam a Zcit, e compromete a aproximação da Zona com o Ceará. "A Zcit 'desce' principalmente entre fevereiro e março, mas faz tempo que ela não dura mais que abril", pontua.

Fonte: DN

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