Operação no Jacarezinho: Defensora relata 'cenas de crime desfeitas' e 'choque' com morte em quarto de criança

Imagem: Mauro Pimentel/AFP

Membros de organizações que estiveram na favela do Jacarezinho depois da operação policial que deixou 25 pessoas mortas ontem descrevem cenários de devastação e dizem que cenas de crimes foram desfeitas antes que perícias pudessem ser feitas nesses locais.

A Defensoria Pública, a Comissão de Direitos Humanos da OAB e a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio foram à favela e ouviram moradores.

"O primeiro choque inicial (ao chegar ao Jacarezinho) foi a quantidade de sangue nas ruas", disse a defensora pública Maria Júlia Miranda depois da visita. "Eram muitas poças.

Relatos de violação de domicílio e de mortes neles. Muitos muros cravejados de bala, muitas portas cravejadas de bala". Ela também descreveu cômodos de casas cobertos de sangue, inclusive o quarto de uma criança, e mães procurando seus filhos pelas ruas.

Cenas de crimes desfeitas

A Defensoria disse que pelo menos três cenas de crime foram desfeitas antes que a perícia pudesse chegar. Numa delas, segundo a defensora Maria Júlia, o corpo de um homem que foi morto numa via pública foi retirado dali. Há, diz ela, uma foto que mostra o homem já morto numa cadeira e outra, que teria sido tirada mais tarde, mostra a mesma cadeira ensanguentada, mas já sem o corpo.

A Defensoria visitou também duas casas que chamaram a atenção. Numa delas, havia sangue pelo chão e pedaços de corpos. Na outra, o quarto de uma criança de oito anos estava coberto de sangue.

A família contou à Defensoria que testemunhou a execução de um homem ali. Ele entrou na casa já ferido e foi morto no quarto da menina, que, inclusive, viu a cena, segundo contou a família à defensora. Também há depoimentos de outros moradores que descrevem corpos sendo retirados de casas, diz a Defensoria.

"Não está clara a ligação das 24 vítimas com a operação, que até então tinha 21 suspeitos (a 25ª vítima é um policial civil). É óbvio que a morte dessas pessoas não se justificaria mesmo com um crime, mas é ainda mais chocante que operações saiam com 24 mortos e não tenhamos um relato preciso da polícia de qual era seu objetivo e como ele foi alcançado. Se essa operação tivesse vislumbrado esses 21 suspeitos, já sairíamos do processo com identificação dessas pessoas. Várias seguem sem identificação".

O que diz a polícia

Em coletiva de imprensa no fim da tarde desta quinta-feira, representantes da Polícia Civil do Rio de Janeiro negaram que tenham acontecido execuções ou irregularidades na operação que terminou com 25 mortos em Jacarezinho.

Questionado sobre a decisão do STF que inibiu operações policiais em favelas durante a pandemia, Rodrigo Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, afirmou que a medida judicial não impede as operações, mas estabelece uma série de protocolos para que elas sejam realizadas. Segundo ele, todas as medidas necessárias para justificar a operação foram previamente cumpridas.

Quanto às denúncias de invasões de casas de moradores e abusos cometidos pelos policiais durante a operação, o delegado Fabrício Oliveira, coordenador da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil), disse que foram os criminosos que invadiram as casas.

Fonte: UOL



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